O QUE É MEU É TEU...

sexta-feira, setembro 21, 2007

Tears in Heaven...


“Vem… senta-te aqui, disse ela “repousa a tua alma”.

Ele desvia o olhar e sacode suavemente a cabeça como quem espanta uma mosca do ar. Ela beija-lhe as pálpebras, depois a testa e por fim os lábios. Toca-lhe na cara e desenha-lhe os traços com os dedos finos e nevados. Olhos, boca, nariz… faces, queixo, maxilar…

“Vem... senta-te aqui”,
insiste… e estende a mão confiante na sua direcção. Ele vagueia os olhos pela rua escura e vazia, o silêncio sufoca-lhe a fala. Senta-se, por fim, na borda gelada do passeio. Os seus gestos são tristes e os seus modos sombrios. Por oposição, a luz trémula do candeeiro ilumina as faces da rapariga a contra-luz. O ar húmido da noite fria concede-lhe uma aura de quase transcendência, um halo enevoado de luz e sombra, de pó e água, que jamais alguma forma de arte poderia reproduzir.

“É tão bela”, pensa consigo próprio. Fita-a de olhar perdido como se contemplasse o horizonte à beira da praia. Procura nela e nada encontra. Mas também não sabe o que pretende encontrar.

Chora compulsivamente, tentando esconder com as mãos a sua fraqueza. Ela nada diz e ele nada fala. Mantém-se fiel ao silêncio na esperança que o momento suprima a necessidade das palavras.

O pranto rola-lhe pela cara abaixo e mancha as pedras negras da calçada. Um pingo, depois outro, outro ainda; em breve um charco de água, um lago de lágrimas onde se poderia banhar.

Com um gesto delicado, ela ampara na ponta do dedo uma lágrima perdida, socorrendo-a antes de cair e se afundar no empedrado. Observa-a bem de perto, com os olhos vesgos de felicidade, e dá-lhe a lágrima a provar.

“A que é que sabe?”. Ele estranha a pergunta mas responde… “A sal”. “Não… sabe a mar”, diz ela. E sorri...

Tira um espelho do bolso, limpa-o com a manga coçada da camisola e aponta-o na sua direcção. “O que é que vês?”. Ele olha-se no espelho, hesita, e responde: “Vejo-me a mim”. Ela abana a cabeça. “Não… eu vejo-nos a nós”. Ele franze o sobrolho, segura o espelho nas mãos e olha novamente. Aos poucos a imagem transforma-se e surgem os dois... juntos, abraçados, a sorrir… Mais estranho ainda, pareciam-lhe ligeiramente diferentes… mais velhos, talvez… seria?

Que sentido poderia tudo aquilo fazer? Esforçava-se por compreender…

Ela pega-lhe então na mão e pousa-a no seu peito. “O que sentes?”, pergunta uma vez mais, “e não digas que só sentes um coração a bater!”.

Ele sorri, desta vez com vontade, e demora-se a olhar para ela, sentindo a força daquela energia que lhe bombeava sentimento para todas as veias e artérias. Teve vontade de fundir-se nela e deixar que lhe inundasse o corpo.

Por momentos ficaram os dois assim, a rir, a sorrir, a olhar, a sentir.

Finalmente compreendia o que ela lhe queria mostrar. Finalmente assimilou a mensagem. Que tudo é uma questão de perspectiva e que a vida tem significados mais profundos do que aqueles que se apresentam num primeiro instante. Que nem tudo o que parece é. Que muitas vezes as coisas mais importantes se revelam nos gestos mais pequenos e inesperados. Que nos perdemos no ponto e no traço quando o que importa ver é o quadro na sua totalidade.

Limpou as lágrimas que ainda lhe banhavam as íris esverdeadas e agradeceu por ter consigo aquela presença de menina, de coração puro e modos singelos. Se era verdade que os anjos existiam, revelavam-se nos momentos mais inesperados.

Ela levantou-se, ajeitou a camisola coçada e tomou-lhe as mãos...

“Vem… vamos voar daqui para fora…”



quinta-feira, setembro 13, 2007

Eu gostava...


Eu gostava de não estar careca
E ter a cabeça como uma alforreca

Gostava de ter um iate
Ir ao Cú e à Cona de Marte

Olhar para trás de mansinho
E saber que não está lá um caralhinho

Correr correr correr correr
Passar o dia de Anos a foder

Mas que merda, que porra, que foda
Não tenho pinta para desfiles de Moda

Hoje é o meu aniversário
E apetece-me ser ordinário

Conas, Cús, broxes e bordas
Tudo atado por umas cordas
(estarei a ficar repetitivo?)

Quero uma gaja de cú para o ar
Toda tesuda e a salivar

O meu caralho fica teso e grosso
Quando lhe aperto o pescoço

Pim Pam Pum
Cada Puta Mama Um




Uma das vantagens de fazer anos, é poder dizer toda a merda que nos vem à cabeça e as pessoas só lerem e comentarem a parte festiva do post!

Oh Miss trazes-me uma prenda? Assim embrulhadinha e sem pêlos?


Bjos e abraços
Mr “the fat hairy baby” Teaser

segunda-feira, setembro 10, 2007

A revolta dos botões ou a teoria da inutilidade!


Numa loja de roupa, num final de tarde, há nem tanto tempo quanto isso…

Miss: Xu, olha este tão giro!
Mr: não gosto!
Miss: hmmm… então e este mais clarinho? Ficava-te bem…
Mr: eu prefiro mais escuros… Mas este às riscas é louco!
Miss: esse é igual a um que já tens!!!
Mr: não é nada!!! As riscas são de outra cor!
Miss: sabes lá tu, és daltónico! Para ti é tudo verde-caqui!
Mr: ohh lá tas tu…
Miss: então e aquele? Vais dizer que aquele não é giro??
Mr: aquele é MUITO giro mesmo…
Miss: yupiiii… vai experimentar!
Mr: ahh espera… tem 3 botões!
Miss: e depois?
Mr: não gosto! Quero só com dois…
Miss: FDXXXX!! Mas porquê? Vais andar com os dois botões abotoados?
Mr: não… o último nunca se abotoa!
Miss: então o que é que interessa?


Tirando a falta de sentido prático do Mr para fazer compras, há coisas que me fazem muita confusão. Principalmente alguns dos jeitos e trejeitos relacionados com a aquilo a que se designa por “regras de bem vestir”.

“Quando vestem fato, os homens não devem abotoar o último botão do casaco”. Ora isto é uma coisa que me atrofia sobremaneira!

Em primeiro lugar, porque raio não se deverá abotoar o último botão?? Faz assim tanta diferença? Será que isso faz com que, ao olhar para um homem, digamos “bem, aquele gajo fica o máximo de fato, repara que não abotoou o último botão do casaco!”. Espectáculo… ou então, “olha que pindérico, nem usar um fato sabe, vai ali todo abotoado até abaixo!”. Aposto que todos os homens feios e mal enjeitados, encontrariam a solução para todos os seus problemas de estilo se fizessem uma coisa tão simples como desabotoar a porcaria de um botão! Ora que faxavôr!!!

Em segundo lugar… imaginemos uma marca que produz fatos com três botões… ora, se à partida se sabe que os homens que comprarem o fato só irão abotoar os dois primeiros botões do casaco, porque carga de água continua essa marca a desenhar os seus fatos com três botões?? Ok, neste momento lá virá algum inteligente argumentar que se mantém o terceiro botão só para que os homens saibam que é o último. De modo que, por conclusão lógica, se o terceiro e último botão desaparecesse, os homens não teriam outro remédio senão desapertar o segundo! (um argumento que não me parece favorecer em nada a inteligência masculina, mas pronto).


Enfim, eu continuo a achar que não faz sentido. Não só a própria regra em si como o facto de se continuarem a produzir fatos com um botão a mais que não tem a mínima utilidade!

E isto faz-me lembrar a famosa proeza da American Airlines. Para quem não conhece a história, aqui fica…

Vivia-se o final da década de 80 e a companhia aérea americana debatia-se com a necessidade de reduzir os seus custos operacionais. Após algumas tentativas frustradas, um dos executivos da empresa, autêntico génio da gestão, chegou à brilhante conclusão de que o problema se resolveria de uma forma muito simples. Não seria necessário despedir pessoal nem baixar os ordenados, apenas retirar uma das três azeitonas que compunham as saladas servidas a bordo aos passageiros. Uma simples azeitona, multiplicada por cada salada oferecida às várias centenas de passageiros que voavam todas as semanas naquela companhia aérea, traduziu-se em poupanças de muitos milhares de dólares para a empresa no final do ano. Isto, sem consequências para os funcionários nem para os passageiros que nunca notaram a ausência do dito fruto nas suas refeições.

Quando me lembro disto, imagino o dinheiro que a indústria têxtil não pouparia se retirasse um botão a cada fato que é produzido. Provavelmente isso impediria que muitas fábricas fechassem e muitas pessoas perdessem os seus empregos.

Uma única azeitona; um único botão… há coisas do caralho…